Terceira edição do "Espaço Musical"

Espaço Musical 





A FUPL a caminho da boda de Diamante


Saiba tudo sobre a cultura musical contemporânea na freguesia da Luz aqui no nosso "Espaço Musical", com músicos, ex-músicos, dirigentes, ex-dirigentes, maestro e antigos maestros da nossa filarmónica e de todas as colectividades ligadas à música na nossa pequena localidade. Haverá lugar para a opinião pública dos cidadãos da nossa freguesia em relação à nossa cultura musical. Vamos aproximar dos luzenses a música produzida na Luz e os projectos em marcha. Queremos manter vivas as nossas tradições. Nesta terceira edição do nosso "Espaço Musical" trazemos aos nossos visitantes umas breves palavras de Tiago Santos, bombardinista da Sociedade Filarmónica União Popular Luzense. Agradecemos-lhe desde já a sua colaboração com o nosso projecto de divulgação da cultura musical da nossa freguesia e promovendo o debate e o desenvolvimento musical na nossa pequena localidade.



"Na esteira de vários artigos anteriormente escritos por duas referências luzenses do mundo da música nas primeiras edições do "Espaço Musical" do espaço informativo dos Ultras Luso Canalha 2002, quero aqui deixar umas breves referências sobre a cultura musical luzense e a sua influência no quotidiano dos luzenses.
O ano de 2012 tem sido um ano marcante para a freguesia da Luz, um ano de grandes marcos históricos de vários grupos e colectividades da nossa pequena localidade situada a Sudoeste da ilha Graciosa. O Grupo Desportivo Luzense comemorou 20 anos de existência no passado dia 8 de Setembro de 2012, numa festa que contou com cidadãos luzenses de todos os quadrantes sociais, políticos e culturais, e a 25 de Abril de 2012 a Luso Canalha, movimento cívico de jovens luzenses e grupo de apoio ao Grupo Desportivo Luzense, comemorou o seu 10.º aniversário. Foi, então, um ano marcante para uma freguesia com pouco mais de 600 habitantes, mas com bastantes colectividades e com muita actividade em todos os sentidos. Este ano civil de 2012 caminha para o seu fim e vem aí um 2013 não menos importante. O ano de 2013 será marcado pelas comemorações do 75.º aniversário da Sociedade Filarmónica União Popular Luzense, uma instituição culturalmente prestigiante para a nossa freguesia e que sempre honrou o Sul da ilha branca e a nossa pequena mas enorme em espírito ilha Graciosa. É exactamente com a Filarmónica União Popular Luzense que inicio o meu pensamento de hoje.
A Filarmónica União Popular Luzense iniciou a sua caminhada a 27 de Abril de 1938, em plena ditadura,  numa freguesia com enorme densidade populacional naqueles tempos. A FUPL era um ponto de encontro de muitos luzenses, era o dia-a-dia de muitos, o lazer de outros, a paixão certamente de todos. Em procissões, funerais, coroações, em concertos nos arraiais,  a tocar aos emigrantes, entre outras festividades, nelas todas estava presente a enorme Filarmónica da Luz. Toda a gente se interessava pela nossa filarmónica todos os dias e tínhamos um ensino musical que funcionava como educador e formador de seres humanos. A cultura da disciplina reinava na FUPL, ou não estivéssemos em pleno regime do Estado Novo até meados da década de 70. Muitos jovens luzenses davam os seus primeiros passos no mundo da música e na convivência social na única filarmónica da freguesia da Luz. Tínhamos uma instituição musical que congregava todas as classes sociais, que tinha uma sede, naquele tempo, de excelentes condições, tínhamos uma FUPL de todos: dos muito ricos, dos ricos e dos pobres. Ninguém era deixado para trás por esta instituição. O rigor era palavra de ordem naquela casa. A Filarmónica da Luz assumia-se como a melhor casa de bailes da ilha Graciosa, onde havia porteiros a receber as pessoas em dias de festa ou de baile, onde não entrava quem não estivesse socialmente bem vestido, isto é, de gravata, o casaco, as calças sociais. Não seria um excesso de rigor, era um costume, a convicção das pessoas da obrigatoriedade deste costume que virou regra. Gente de toda a ilha fazia fila para entrar. Começavam na ilha os famosos bailes das crianças ao domingo à tarde e ao final de tarde (início de noite) começavam os bailes para maiores de 18 anos. Autênticas romarias tinham como destino a sede da Filarmónica União Popular Luzense, quer para os bailes de Carnaval, quer para os bailes dos emigrantes.
E foi fruto dessa emigração que a partir da década de 60 do século passado se acentuava e acelerava de forma preocupante o fluxo de emigração de luzenses para as "américas" e muitos dos nossos jovens músicos rumavam com os seus familiares mais próximos para outras terras, deixando a freguesia da Luz cada vez mais pequena em população e mais pobre em mão-de-obra em todos os sectores económico-sociais, bem como nas nossas instituições culturais. Esse processo foi se acentuando cada vez mais ao longo dos anos. O processo de renovação dos músicos da nossa filarmónica era constante e todos os anos dezenas de músicos saíam à rua a tocar na nossa banda filarmónica. Chegando à idade de casar, uns foram morar para outras freguesias e rumaram a outras filarmónicas, outros deixaram a vida musical, mas a maior parte emigrou. Era um autêntico êxodo rural. A freguesia da Luz foi perdendo a hegemonia musical que conservou durante décadas. O auge da nossa Filarmónica, em termos de qualidade musical foi durante as décadas de 60, 70 e 80 do século XX.  A partir de inícios da década de 90, o processo de formação de músicos foi ruindo, a banda filarmónica da FUPL caindo, até que deixou durante alguns anos de fazer concertos por durante a  maior parte do ano os músicos nem na nossa filarmónica comparecerem para fazer ensaios. Tinham ruído os alicerces construídos pelo Maestro Adolfo dos Santos, o qual formou mais de uma centena de músicos, e também mais tarde a irreverência de um ainda "jovem maestro", na altura, de nome chamado José Gabriel Martins, actual Presidente da Academia Musical da Ilha Graciosa. O projecto arquitectado e mantido durante muitas décadas por Manuel da Cunha e por outros ilustres sócios fundadores da FUPL parecia estar em decadência rumo ao encerrar de portas. 
Surge então o jovem George Ortins, neto de Manuel da Cunha, na presidência da nossa filarmónica. Na altura foi muito criticada esta aposta pois era, na óptica dos críticos, vista como uma "aventura arriscada". Aos poucos, com instrumental velho e já sem farda, a Filarmónica que acumulou várias fardas já estava "despida" mas nunca deixou de tocar.  George surgia então como o Presidente mais novo de sempre da Filarmónica União Popular Luzense. Retomou então, embora ainda timidamente, o processo de formação de músicos. Após um ano na Presidência, fruto de estar a prosseguir estudos, George deixa a presidência e surge então um presidente ambicioso, ex-militar da Marinha Portuguesa, no seu regresso à Graciosa, Emanuel Medeiros na liderança da Direcção da Sociedade FUPL. Tentou recrutar de volta José Gabriel como maestro da nossa banda mas não o conseguiu. Foi-lhe recomendado então um jovem músico praiense de nome Luís Aguiar. Em Outubro de 1996 entrava ao serviço da filarmónica da Luz este jovem músico ligado à Sociedade Filarmónica União Praiense, sem experiência de maestro mas já na altura um excelente executante de clarinete. Luís Aguiar inicia, durante presidência do dr. Emanuel Medeiros, uma verdadeira Escola de Música, com duas turmas de alunos em formação musical, cada turma com aproximadamente duas dezenas de aspirantes a músicos. A FUPL adquiria novo fardamento. Com as palhetas começou o Luís a trabalhar, enquanto nos metais ensinava João Leite, um dos músicos que um depois ingressaria como um dos músicos fundadores da Orquestra Regional Lira Açoriana, tal como Manuel Osvaldo Ramos. Emanuel tinha na sua direcção nomes sonantes, tais como o senhor João Veiga, actualmente emigrado nos EUA, e Ramiro Teixeira, tendo este último permanecido na Direcção até 2008. Após pouco mais de um ano de retoma verdadeira da actividade musical regular da nossa filarmónica George Ortins volta à Direcção, coadjuvado por Ramiro Teixeira. Nos bailes da FUPL abrilhantava o Carnaval da Luz o extinto conjunto musical "Os Oportunos". Com George Ortins o projecto musical da banda filarmónica teve continuidade e foi se enraizando ainda mais. Fortalecida a banda com novos músicos, a filarmónica volta a viajar, mais de uma década depois, para fora da ilha Graciosa, deslocando-se ao Porto Judeu (1998), após duas viagens ao Pico e uma ao Faial na década de 80 do século passado. Mais tarde viríamos a viajar na filarmónica, em 2000, para o Canadá, a qual foi o ponto mais alto da FUPL nos últimos anos, e novamente para a ilha Terceira, para a freguesia das Fontinhas e para a ilha das Flores nas comemorações da Festa do Emigrante nas Lajes das Flores. Em 2006 viajámos para o Faial, fazendo três concertos naquela ilha: dois nos Flamengos durante um festival de música e um na Praça do Infante na Cidade da Horta, com o alto patrocínio da Câmara Municipal da Horta, tendo sido um contacto musical com a realidade faialense que foi muito inspirador para nós, no âmbito de um intercâmbio com a Sociedade Filarmónica Nova Artista Flamenguense. Foram porém feitas obras profundas na sede da nossa Filarmónica, o que provocou uma quebra no investimento em instrumental. Surgiu então um novo tecto, sobrado novo no chão da sala, novo design no interior da sala inspirado naquela maravilhosa sala que muitos graciosenses outrora trazia aos nossos bailes. Retomou-se o investimento em instrumental com a renovação quase total de instrumental em alguns naipes e a restauração de instrumentos já antigos mas que tinham qualidade de som. Adquiriam-se então duas tubas novas e alguns músicos apostaram na aquisição do seu próprio instrumento, aliviando um pouco as sempre difíceis finanças de uma filarmónica tão pequena numa freguesia tão pequena. A frequência de formação de novos músicos foi diminuindo consideravelmente e a banda foi se mantendo com poucos mas bons músicos. Em 2009 viajámos para a freguesia da Feteira (Ilha Terceira), num ano em que as divisões na freguesia se acentuavam e George Ortins esteve mesmo perto de abandonar a presidência. De Outubro de 2008 a Março de 2009 a banda filarmónica não teve ensaios pois não tinha direcção. Foi um ano muito complicado. 
Em Outubro de 2009, após cerca de 12 anos de um excelente trabalho de Luís Aguiar como maestro da FUPL, este deixa a Filarmónica União Popular Luzense. É substituído por João Leite em Outubro de 2009 após ter feito o seu último concerto com a FUPL nas Comemorações do Dia Mundial da Música no Centro Cultural da ilha Graciosa. João Leite retoma a formação intensiva e com critério de novos músicos, com o apoio de uma Direcção forte reforçada com um excelente director, o qual substituiu Ramiro Teixeira nessa pesada função de coadjuvar George Ortins. Estamos a falar de Marco Magalhães. Este, em conjunto com Bruno Santos e José Fernandes Silva têm trabalhado muito pela FUPL. Trouxe consigo Marília Magalhães, sua esposa, uma mulher de muito trabalho e que tem sido uma componente cerebral que inspira todo o elenco directivo com os seus pensamentos e com a sua capacidade de trabalho. Não seria fácil arranjar outro substituto à altura do mestre Ramiro. Este parecia ser mesmo insubstituível. Com este novo elenco surge um palco novo, as excelentes obras no bar da sede e a abertura de uma entrada grande para a sala. Era a maior renovação de sempre do interior daquela sede. Contudo, devido à crise generalizada no nosso país, a filarmónica teve de inovar e surgiram em 2008/2009 os Karaokes da FUPL. Com a realização de Karaokes a Direcção conseguiu garantir credibilidade junto dos construtores, fornecedores e banca para possibilitar a realização de obras, quase na sua totalidade financiadas por fundos próprios e com o precioso apoio da Câmara Municipal, dado o facto de não conseguir garantir subsídios para a realização das obras. Ficaram pendentes os projectos para a nova sala de ensaios e cozinha mas só com um bar novo se conseguiria ter fluxo de vendas para poder financiar as restantes obras e a própria renovação de fardamento e de instrumental e a própria organização das Festas do Carapacho e Luz por parte da nossa filarmónica desde 2009 têm demonstrado excelentes resultados e têm dado um bom fôlego àquela casa. O trabalho tem sido árduo, sempre dando todas as condições ao nosso coordenador musical e Maestro João Leite para este continuar com o seu óptimo e notável trabalho que a médio prazo terá os seus frutos garantidos, pois não é de um dia para o outro que se formam músicos e muito menos de qualidade. Há que dar tempo ao tempo. Um merecido prémio para todos pelo trabalho realizado foi a viagem ao Pico no passado mês de Agosto de 2012, com a participação nas Comemorações dos 150 anos do Culto ao Senhor Bom Jesus Milagroso, em conjunto com mais 11 filarmónicas, todas elas do Grupo Central, na freguesia de São Mateus.
Muita coisa ainda há por fazer, mas prefiro focar-me no que está a ser feito e dar motivação a todos os que compõem a Sociedade Filarmónica União Popular Luzense e contribuir para o progresso desta banda. No meu caso, estando actualmente na banda como músico apenas nas férias, tento contribuir com o meu trabalho enquanto músico e com as minhas ideias seja na vertente musical, seja na parte social da FUPL. 
No meu entender, só com estes actuais dirigentes (George, Marco, Bruno e José) a FUPL terá futuro e que saibamos todos não cair no erro de deixar entrar "paraquedistas", que nada percebam de música, que destruam uma identidade da banda recuperada desde meados da década de 90 até aos dias de hoje. Vamos continuar a contribuir com ideias, mas sem guerras, para a nossa filarmónica e para a nossa freguesia. A Filarmónica União Popular Luzense está todos os dias aberta para todos os luzenses e não só nos dias de festa. Temos primeiro de valorizar a nossa filarmónica, isto se realmente quisermos manter bons bailes, uma boa banda em palco nas festas, tendo uma filarmónica como o orgulho da freguesia e que seja o espelho de nós todos enquanto partes de uma comunidade tão pequena que é a nossa maravilhosa freguesia da Luz."


"Abraço a todos os luzenses e a toda a família FUPL,

Tiago Santos (bombardinista da FUPL)."


Um exclusivo Ultras Luso Canalha 2002

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